segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Os trens fluminenses




No dia 30 de abril de 1854 foi inaugurada a primeira ferrovia do Brasil, ligando Guia de Pacobaíba (hoje Mauá) a localidade de Vila Inhomirim ou Raiz da Serra, Município de Magé. Data pelo qual é comemorado o Dia da Baixada Fluminense (Lei Estadual N° 3.822, de 02/05/2002). Em 1858 é inaugurada a Estrada de Ferro Pedro II (hoje Central do Brasil), atingindo Machambomba (atual Centro de Nova Iguaçu), Queimados e Japeri. Em 1876 é inaugurado um novo trecho ferroviário (Estrada de Ferro Rio D' Ouro – A Ferrovia da Águas), com o intuito de transportar dutos de ferro para abastecer a Corte, com os mananciais da Serra do Comércio, São Pedro (hoje Jaceruba), Tinguá e Xerém (atual Reserva Biológica do Tinguá). Uma vez que a cidade do Rio de Janeiro sofria com o desabastecimento de água. Em conseqüência a Baixada Fluminense perdeu grande parte de suas matas, devastadas para o fornecimento de carvão e lenha para as locomotivas. Sem falar dos altos índices de óbitos entre os trabalhadores que ao morrerem tinham seus corpos queimados, daí a suposta origem do Município de Queimados (Cemobafluminense). Conforme as locomotivas faziam suas paradas para o abastecimento de carvão, foram surgindo vilas que posteriormente foram elevadas à categoria de distritos, até que alguns foram transformados em municípios, porém somente em 1883 em caráter provisório começam a circular os primeiros trens de passageiros. Em Vila Merity (atual Centro de Duque de Caxias) chegariam apenas em 1884.



Com a política do "bota tudo abaixo" do então Prefeito Pereira Passos, as terras dos subúrbios cariocas, e da Baixada Fluminense recebem boa parte desse excedente humano, somado a chegada de retirantes de todas as partes do país, transformando esses bairros e municípios em cidades operárias. Na época a Baixada Fluminense era composta apenas pelos municípios de: Magé, Itaguaí, Paracambi, e Nova Iguaçu, onde grande parte de sua força de trabalho realiza um movimento pendular com o Município do Rio de Janeiro diariamente, situação agravada após a crise da citricultura no pós-guerra. É possível verificar a inter-relação entre a metrópole carioca e a Baixada Fluminense, a partir das noções de apropriação e dominação, tendo a reprodução do espaço como pano de fundo. A cidade do Rio de Janeiro com seus mais de 6 milhões de habitantes recebem toda sua água da Baixada Fluminense através do Rio Guandu que tem suas águas engrossadas através da captação de água do rio Paraíba do Sul e da represa de Piraí. Hoje apenas 40% da Baixada Fluminense possui acesso à água tratada fornecida pela CEDAE, embora forneça água para o Rio de Janeiro desde o século XIX. A maior violência na região ocorre contra sua própria população que enfrenta trens lotados e sujos e ônibus mal conservados que os despeja aos milhares na Central. De certa forma é possível afirmar, como fez Barreto (2007) em "Baixada Fluminense: antigas imagens, novas representações", que os meios de transporte que interligam o Rio e a Baixada Fluminense (trem, metrô, e ônibus), sempre lotados, possibilitam uma "co-presença" entre os moradores das duas localidades. Ou seja, até por questões sócio-históricas, a Baixada Fluminense nada mais é do que a continuação dos subúrbios cariocas. Os municípios dessa microrregião são células urbanas integradas ou anexadas ao Rio de Janeiro através do aperfeiçoamento dos ainda precários sistemas de transportes da capital.



Assistimos nos últimos dias a revolta popular dos passageiros do sistema ferroviário da Região Metropolitana. Uma população que não suporta mais o descaso e os maus tratos praticados pela SuperVia e pelo Governo Fluminense, responsável pela concessão do serviço ferroviário. Mesmo após uma década de privatização os ramais de: Saracuruna – Guapimirim e Saracuruna – Vila Inhomirim (ou Raiz da Serra) ainda operam movidos a óleo diesel. O (des)governador Sérgio Cabral (PMDB) diga-se de passagem um governador fluminense com nicho de subprefeito carioca, antes de chamar os usuários de vagabundos deveria fiscalizar a SuperVia, que aliás tem como advogada a sua esposa Adriana Anselmo. A SuperVia que assumiu os trens do Rio de Janeiro na década de 1990 quando o Estado do Rio de Janeiro era governado (ou desgovernado) por Marcello Alencar (PSDB) e aqui no Rio de Janeiro, Sérgio Cabral presidia a ALERJ (PSDB), assim foi extinto o sistema fluminense – CBTU. Atualmente o Governo Fluminense compra os trens e reforma estações, cabendo a SuperVia levar o dinheiro arrecadado para o exterior em seu país de origem. Um grande exemplo de sucesso das políticas neoliberais.



O canalha Sérgio Cabral ao invés de melhorar os transportes na Baixada Fluminense e na Zona Oeste preferiu criar linhas de ônibus ligando a Baixada Fluminense à Barra da Tijuca, com o intuito de levar mão-de-obra e desqualificada (ou barata) para atender a construção civil e a especulação imobiliária das empreiteiras, outras empresas e trabalho doméstico. E principalmente beneficiando o cartel das empresas de ônibus que já monopolizavam o transporte na Baixada Fluminense e Zona Oeste. Quando dados do próprio governo dão conta que a transformação da malha ferroviária da Região Metropolitana em metro de superfície custaria menos da metade dos recursos destinados a construção do metro da Barra da Tijuca, pois já existem o trilhos caberia assim algumas transformações e comprar composições. Vale recordar a perseguição sofrida pelos profissionais do transporte alternativo, com uma desculpa tão lavada do envolvimento desse setor com grupos armados, agora não se fala dos "seguranças" das empresas de ônibus. situação dos trens no Rio de Janeiro.



Até quando a Baixada Fluminense continuará fornecendo água potável, mão-de-obra e tantas coisas mais para o Rio de Janeiro e, em troca recebendo lixo, descaso e abandono por parte do poder público? O Estado que age de forma truculenta para agradar aqueles interesses mesquinhos, que pregam o recrudescimento das leis contra quem não tem "eira nem beira", contra quem não é de família tradicional ou não detém os meios de produção. Na verdade esses ramais que vão até os municípios mais distantes (Magé e Guapimirim) estão sempre reduzidos a sucata. Na minha opinião, corrijam-me se estiver errado, é que se o sistema funcionasse corretamente, grande parte daqueles ônibus que chegam ao Rio pela Av. Brasil não seriam necessários. Os usuários apenas querem um transporte seguro, pontual e que a concessionária os trate de forma digna e sobretudo humana. Só na cabeça de Sérgio Cabral (PMDB) "vagabundo" acorda as 4 da manha para pegar trem ou ônibus.



Essa mesma mídia que recebeu mais de 450 milhões de publicidade do (des)governo Sérgio Cabral, muito antes da grande mídia usar de forma sensacionalista a situação do transporte ferroviário fluminense. O Poeta Negro Solano Trindade que como muitos nordestinos, foi morar no Rio, radicando-se em Duque de Caxias e posteriormente em Realengo, ficou sensibilizado com a realidades dos trabalhadores nos trens. Assim em 1944 escreveu o livro "Poemas de Uma Vida Simples", onde encontramos o seu declamadíssimo "Trem sujo da Leopoldina". "Assim quando o poeta pode perceber, que o trem que levava os trabalhadores de volta as suas casas depois do dever, cansados, músculos e estômagos com dores, denunciava entre ferragens e vapores".



Ah! Quantas caras tristes querendo chegar, em algum destino, em algum lugar. Trem sujo da Leopoldina, de novo a correr, de novo a dizer. Tem gente com fome... Só nas estações, quando vai parando lentamente começa a dizer, se tem gente com fome, dá de comer, se tem gente com fome , dá de comer, se tem gente com fome , dá de comer. Mas o freio de ar, todo autoritário manda o trem calar. Psiuuuuuuuuuu !!!!”.








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