O bairro Pantanal no município
fluminense de Duque de Caxias, está localizado em seu 2º Distrito que têm como
sede o bairro de Campos Elíseos, famoso por sua refinaria (Reduc), segunda
maior do país. Porém é preciso ressaltar que devido ao imenso vazio que há na
ocupação humana na região, em virtude da existência de terras alagadas por
estarem entre as sub-bacias hidrográficas dos rios Iguaçu e Sarapuí, a partir
da ferrovia do ramal de Saracuruna, no bairro histórico do São Bento, por isso
o Pantanal sempre esteve mais ligado ao 1º Distrito que têm como sede o Centro
do município, sobretudo devido sua aproximação com o bairro Gramacho e sua
estação de trens. O nome do bairro está associado diretamente a sua geografia,
marcadamente composta por terras alagadas pela sub-bacia hidrográfica do rio
Sarapuí, que nasce em Bangu na Zona Oeste da capital fluminense, drena grande
parte da Baixada Fluminense - Nilópolis, Mesquita, São João de Meriti, Belford
Roxo, até que nas terras duquecaxienses desemboca no maior rio da região, o rio
Iguaçu, entretanto a topografia existente no bairro não é homogênea, por
apresentar uma série de pequenas elevações. O Pantanal é divido nas localidades
de Vila Rosário, Vila São José, Abc, Morro do Sossego e Jaqueira.
A realidade histórica e social do
bairro não é marcada por interesse de pesquisadores e de seus próprios
moradores, que em sua grande maioria é formada por trabalhadores e gente simples
– muitos retirantes do nordeste brasileiro, Minas Gerais e do Norte Fluminense.
Podemos definir como três momentos históricos; o primeiro foi a construção do
Solar da Marquesa, ou Castelo da Marquesa de Santos, amante do Imperador D.
Pedro I. Mas para alguns esse castelo não passa de imaginário popular, pois o
que havia no morro da Vila São José não passava de um engenho.
“... O castelo ficava numa pequena
elevação, às margens do Rio Sarapuí, atualmente denominado Pantanal, na Vila
São José, distante uns cem metros da sede do sítio onde residiu o ex-deputado
Tenório Cavalcanti em seu auto-exílio. Aliás, na casa do Sítio São José, ainda
podemos ver dezenas de ladrilhos portugueses recolhidos das ruínas do Solar da
Marquesa, além de algumas belíssimas colunas de pedra, artístico trabalho de
cantaria.” (LAZARONI, 1990:79)
O segundo momento refere-se à construção
da antiga Rio-Petrópolis na década de 1920, sendo inaugurada em agosto de 1928,
hoje praticamente abandonada com suas obras de duplicação arrastando-se desde
2005, deixou de ser Av. Presidente Kennedy para ser chamada de Av. Governador
Leonel Brizola (RJ101).
“A estrada Rio-Petrópolis atravessando
a Baixada Fluminense, vai ao km 17.950 passa por uma ponte de cimento sobre o
rio Sarapuí atravessando o 8º Distrito de Caxias ao 1º de Nova Iguaçu.” (PERES, in: Tôrres, 2004:79)
Em terceiro, temos por fato na década
de 1950, fortes chuvas que resultaram em alagamentos, entre os anos de 1958 e
1959. Segundo relatos da memória social local,muitos desabrigados, moradores
oriundos do 1º Distrito do município instalados no “mangue”, ou seja, nas
terras baixas próximas ao rio Meriti, portanto com grandes chances de novas
enchentes,após um período morando de forma precária e de improviso. Foram
assentados no que hoje é a chamada Vila São José, ou simplesmente “vila”, ou
ainda “vila do Tenório”. A Vila São José com os seus 20 becos (ou ruas)
foi construída para ser um conjunto habitacional destinado a gente humilde de
Caxias, porém logo caiu nos tentáculos políticos do “homem da capa preta” –
como Tenório (Natalício Tenório Cavalcante de Albuquerque) ficou conhecido. O
povo só passou a ser dono de fato de suas residências após o ostracismo
político de Tenório, com sua cassação pela ditadura militar, entretanto
continuou a participar da vida política de Duque de Caxias, através de seu
genro Hydekel de Freitas. Aliás, esse tipo de fenômeno político e
social, o coronelismo, requer um novo texto devido sua extensa presença na vida
política do Brasil.
Problemas Sociais
• O Pantanal como qualquer outro bairro
da periferia do Brasil é uma localidade que apresenta dados assustadores, mesmo
pertencendo a segunda cidade fluminense em arrecadação, e que se destaca entre
as 10 maiores no ranking nacional dos PIB’s municipais, em um universo de mais
de 5.000 municípios brasileiros, sendo a cidade fluminense que mais gera empregos.
O município de Duque de Caxias já ocupou a terceira posição entre os municípios
brasileiros que mais exportam, ficando atrás somente de São Paulo e São José
dos Campos. Um bairro de uma cidade rica, com um povo pobre!
• Por minha própria experiência devido
ao fato de sempre ter residido em D.Caxias, ao longo dos meus 25 anos, onde 18
anos foram no Pantanal, conheço na carne a realidade desse lugar. Na área
educacional temos unidades escolares administradas pelo estado e pelo
município. O primeiro construiu dois Ciep’s na década de 1980 e talvez
por isso visivelmente assistimos todos os dias alunos do bairro estudando em
escolas estaduais fora da comunidade, e também é preciso destacar as turmas
superlotadas nas escolas do bairro.Na esfera municipal contamos com quatro
unidades de ensino ( e nenhuma creche), onde a Escola Municipal Maria Clara
Machado funciona precariamente por improviso no velho prédio com +/-50 anos do
extinto Educandário Maria Tenório.
• O bairro sofre ainda com ruas
esburacadas, falta de organização e sinalização no fluxo do trânsito; as
calçadas são tratadas como extensão de suas propriedades por parte dos
comerciantes e moradores, sem conservação, com falta de padronização o que em
tese impossibilita o deslocamento de idosos e portadores de necessidades
especiais. Os bares ou barracas fazem das calçadas salão para uso de seus
fregueses, cabendo a população caminhar junto aos carros, sem falar no barulho
independente do horário e do dia da semana. É muito comum encontrarmos lixeiras
nas ruas, vazamentos nas tubulações da CEDAE, sem falar do livre deslocamento
de animais de todo tipo de porte sem o menor controle. É visível de se
constatar o crescimento desordenado, sem fiscalização ou controle do poder
público, ocupando-se assim ribanceiras e margens de rios, com graves
consequências no verão.
• Esse ano assistimos o avanço da
especulação imobiliária no bairro, com o inicio das obras de construção dos
condomínios na região conhecida como “Sete Campos” ou ainda “Barrinho”. A
iniciativa de construção de unidades habitacionais é excelente, até mesmo
porque abrindo todas as ruas que terminavam no “barrinho” facilitará o fluxo
dos moradores da localidade, pois até os dias atuais aquele gigantesco terreno
tomado de mato exercia um grande condicionamento social ao bairro, porém estão
ocorrendo situações que poderão trazer impactos para a comunidade local, em
pouco tempo, e ninguém diz nada. O primeiro deles é a remoção de barro do morro
localizado atrás da chácara do Tenório, como ficarão os moradores residentes no
morro com essa retirada de aterro? Segundo, quem fará o concerto do asfalto
destruído pelas ruas do bairro, devido ao intenso e pesado fluxo de caminhões?
Como ficará nas épocas de chuvas, leia-se no período que vai de novembro
a março, os moradores cujo suas residenciais estão localizadas nas terras
baixas entre a Rua Rouget Lisle, e o chamado “Barrinho”, por serem de fácil inundação
como ocorreu em dezembro de 2010? Prova dessa facilidade em alagamentos é que a
construtora responsável pela execução da obra aterrou todo o canteiro de obras.
Como ficará a crescente demanda por água no bairro com o crescimento da
população?
• Todos esses fatores aqui citados devem ser debatidos, pois tudo foi
feito sem consulta aos moradores da localidade, ou seja, como os moradores são
pessoas em sua grande maioria leigas, simples e humildes, portanto
pertencentes às chamadas "minorias sociais",
não devem ser respeitados, essa é a lamentável mentalidade que vigora. A
população deve sim procurar sua participação no dia-a-dia da localidade,
participando das deliberações, pois ser minoria social não é desculpa para se
negar a participar da arena e do debate político, afinal decisões refletem na
vida de todos. Tomemos como exemplos a população indígena da Bolívia, as mães
da praça de maio na Argentina, e os últimos acontecimentos que resultaram na
queda de históricas ditaduras no Oriente Médio e no Norte da África.
• O morador do Pantanal deve saber,
sobretudo, exercer seu papel de cidadão, e não trocar seu voto pelo que há de
mais atrasado, por festinhas realizadas em praças que são públicas, por apoios
em ações das Igrejas. Não se deixem levar mais uma vez por promessas feitas
pelos politiqueiros de plantão, o cidadão não precisa de intermediários entre
ele e o poder público, pois é cidadão e deve ser respeitado e ouvido. O papel
constitucional do vereador não é fazer obras, e nem pode fazer, pois não pode
gerar gastos ao aos cofres públicos, quem faz obras é o chefe do poder
executivo, ou seja, prefeito, governador e presidente. É preciso que busquemos
renovação política, chega de mais do mesmo!
• A água sempre foi um problema
terrível na comunidade. Não há saneamento básico! O que há é a canalização dos
esgotos até valas e canais que levam todo o esgoto ao rio Sarapuí, ou
seja, nem
sequer uma única gota de esgoto é tratada. O fornecimento de água potável pela
CEDAE é precário, geralmente ocorre apenas em anos eleitoras, restando ao
morador o uso de poços artesianos, onde não há qualquer controle de qualidade
da água consumida. Muitas das vezes as escolas são obrigadas a suspenderem suas
aulas, pelo fato de não terem fornecimento de água.
• Na esfera da saúde simplesmente
podemos afirmar que não existe qualquer iniciativa do poder público, seja ele
qual for, pois não há postos de saúde, nem ao menos as caixas de ferro
milionárias que são as UPA’s. Assim resta a população local recorrer em tempos
eleitoras aos chamados “centros sociais” dos políticos de quinta categoria de
plantão no lugar. Um morador do Pantanal para obter atendimento médico só
possui três alternativas: pagar em um hospital ou clínica particular; dormir na
porta dos precários hospitais públicos existentes no município, seja ele
estadual ou municipal; ou ainda é possível recorrer aos hospitais da capital
fluminense, onde também são obrigados muitas das vezes dormir ou amanhecer em
filas para serem atendidos. No 3º e 4º distritos a população recorre aos
municípios vizinhos de Magé e Petrópolis.
• Já que falamos dos poderes executivo
e legislativo em Caxias, quanto gestão municipal atual, assim como todas as
outras do passado é um desastre absoluto no que diz respeito ao planejamento
administrativo; o (des)governador fluminense com nicho de subprefeito carioca,
levou de Caxias nas últimas eleições algo em torno de 80% dos votos, para nada
fazer na cidade, e ainda assim têm nas mãos todos os inúteis deputados com base
política no município, e o próprio prefeito. Uma gente que “vive da política” e
não “para a política”, seus atos na vida pública são apenas com o intuito de
obterem vantagens pessoais, sobretudo porque a política lhes dá a chance de
lavarem suas cidadanias. Por isso é que não estão nem aí para o sofrimento do
povo,não temos segurança pública, uma secretaria de ação social séria e forte
com ações para orientar nossos jovens, que estão vulneráveis aos narcóticos, a
criminalidade, as gestações precoces, aliás essa pasta em Caxias só serve mesmo
para dar de presente a mulher de quem interpreta o papel de governo ao logo do
tempo, seja quem for. Com todos esses fatores ainda têm gente que fala da
Região Nordeste ou ainda da África, não se pretende minimizar o sofrimento dos
irmãos dessas regiões, porém quando saio de casa percebo que temos muito em
comum, ou seja, falta de perspectiva de vida. Um bairro grande como o Pantanal
não possui uma área de lazer decente. E a Igreja como instituição inserida no
contexto social terreno, também pode fazer a diferença, como exemplos temos: o
alemão Martin Lutero, o norte-americano Martin Luther King, os brasileiros e
moradores da Baixada Fluminense, João Cândido (metodista) e Solano Trindade
(presbiteriano).